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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Lima Duarte revela:'Meu pinto morreu já faz tempo. Mas eu ainda estou vivo'


Lima Duarte revela:'Meu pinto morreu já faz tempo. Mas eu ainda estou vivo'


Com a marra digna de quem está no ar desde a estreia da TV brasileira em 1950, Lima Duarte não tem papas na língua. Sem medo, ele fala sobre solidão, saudade e o amor pela profissão, que, aos 81 anos, o faz sair de seu recanto no interior de São Paulo para viver o poderoso Max em ‘Araguaia’, próxima novela das seis, que estreia dia 27.

O DIA - Max será o grande vilão de ‘Araguaia’. O que te interessou neste personagem?
Lima Duarte - É um homem que se perdeu de amor e enlouqueceu. Num tempo em que se enlouquece de ódio, é um grande personagem. Ele tem uma paixão que norteia a vida dele desde a juventude. Filha, esposa: isso não interessa muito a ele não. O que move Max é essa paixão e o fato de ter traído esse amor.
— Aos 81 anos, como é encarar a rotina de um dos principais personagens da novela?
— Já pensei em diminuir o ritmo e até em parar. Tem momentos que dá vontade de chutar tudo. Nessa novela mesmo gravei 90 cenas em 10 dias. Falei para eles: ‘Vocês não obedecem nem a consolidação das leis do trabalho contratuais. Isso é um atentado ao estatuto do idoso’. São duas páginas por cena, no total de 180 páginas para decorar. Tá certo que eu invento um pouco, mas tem que decorar. Teve um momento em que pensei que não dava para fazer tudo isso, mas já passou.
— E o que mais te agrada em sua rotina de trabalho?
— O pessoal da técnica, os contrarregras são muito queridos. Sou mesmo amigo deles, não gosto muito de ator. O pessoal da arte, do figurino... essa gente é minha amiga. Trouxe um casaco para negociar. Quero negociar um da Varig pelo da Globo. O pessoal do camarim vai trocar. Eles mandam vir queijo da Serra da Canastra pra mim. Uma delicadeza.
— O que te faz aceitar um personagem?
— O Walter (Negrão) falou: ‘Faz um personagem comigo’. E contou a história. Somos amigos há 50 anos. Em ‘Belíssima’, o Silvio de Abreu pediu pra eu fazer um turco apaixonado por uma grega. Aí começo a me interessar por essas coisas e eu me rendo. Mas tenho recusado uns personagens. Quando é muito chato, eu não faço. Amo minha profissão e acho que vou fazer isso até morrer, mas preciso que tenha algo que me interesse no personagem.
— O que um personagem precisa ter para te interessar?
— Não barateio nada. Se a cena é para falar ‘bom dia’, procuro um jeito especial para falar. Uma relação nunca é de consumo para mim, essas relaçõezinhas de novela. É sempre profunda, bem calcada. Todo personagem fica grande. Sou visceral. Acho que só dois atores são assim: Osmar Prado e eu. Trabalho sem rede de proteção. Mas assim quando se acerta é uma loucura, mas quando se erra é um barulho.
— Você é vaidoso?
— Essa pequena vaidade de dar autógrafo não tenho. Sou da grande vaidade. Eu quero o povo de joelho aos meus pés. Agora, gritinhos não me interessam. Não sou um ídolo pop. O que me interessa é o coração das pessoas.
— O que você mais gosta de assistir na televisão?
— Como todo mundo, assisto ao jornal e esportes. Novela eu dou uma olhadinha. Como conheço muito os atores, já sei por onde eles vão caminhar. Já não me surpreendo mais. É difícil.
— Tem algum programa que chame a atenção em especial?
— Tem coisas que eu gosto muito, como por exemplo o Ary Fontoura em ‘A Cura’. Ele está tão melhor que ele mesmo, diferente, criou um personagem. As novelas não vejo, mas vi que a Irene Ravache está fazendo uma Porcina. Todo mundo elogia e a Porcina que ela faz assumiu tal proporção que o Gucci vai desenhar a roupa dela. Pensei: ‘Coitada da Regina (Duarte), ela não teve isso’.
— Como foi o reencontro com Regina Duarte?
— Adoro ela, somos bons profissionais. Eu me dou bem com ela. De vez em quando, ela quer umas coisas meio estranhas, mas eu sei que é do temperamento dela, que os atores têm isso. Mas procuro entender e viver sempre essa relação com propriedade e grandeza.
— Como tem sido sua vida nos períodos de folga?
— Quando eu não estou no ar, sou muito solitário, vivo sozinho, num sítio no interior de São Paulo. Não bebo, não fumo, não como carne, não cheiro cocaína, não fumo maconha. Trabalho aqui há 40 anos, pego um avião e venho. Eu sou um solitário. Não gosto de falar, não gosto de ninguém. Sou sertanejo, não sei comer sem torresmo, como diz a canção.
— Você não tem casa no Rio?
— Quando venho, tenho um apartamento em que mora um filho, mas posso escolher ficar num hotel, que também é legal. Ninguém me enche. Eu sou daquele tipo que começou a viver sozinho e não entende mais a vida partilhada. Gosto da vida com humanidade e com os personagens que me assombram como fantasmas todas as noites. Converso com eles.
— A solidão não te incomoda? Não gostaria de voltar a viver uma grande paixão?
— Willie Nelson disse uma coisa, que desculpem as senhoras, mas ‘sobrevivi ao meu pinto’. Ele já morreu faz tempo, mas eu estou vivo. E a paixão é a chave de tudo, uma matéria-prima tão rara hoje em dia e sempre procuro fazer um apaixonado que olha pelas mulheres. Hoje, me apaixono pelas ideias, livros. Mas mulher é bom.
— Você sente muitas saudades do seu passado?
— Só sinto saudade. Sou um escravo do passado. Não quero nada que não seja as pessoas com quem já vivi e trabalhei. Porque foram pessoas como Cássio Gabus Mendes, Boni, Walter Foster, Oduvaldo Vianna. O que falar dessa gente toda? Sinto saudade da minha mãe, do meu pai.
— E saudade de algum personagem em especial?
— Do Sassá Mutema, tenho saudade. Foi uma novela que não foi entendida devidamente. Ela não tinha entrecho: fulano vai casar, vai amar. Era só a história de um homem. Que vai do nada ao entendimento. Era muito linda a ideia. Ele não sabia ler, escrever. Ele não sabia nada. Vivia com a mãezinha dele que morreu e ele ficou sem nada. Mas ele pegava as flores e elas floresciam. E quando ele foi crescendo e aprendendo mais e mais, as flores morriam na mão dele. Isso era uma grande lição para os brasileiros. Que nós, como País, devemos perguntar onde vamos crescendo tanto. E como nação?
FONTE:Daniel Filho de Jesus
POR SAMUEL BATISTA NETO

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